O Censo e o contrassenso

Rérisson
2 min readMay 11, 2021

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O Censo Demográfico, previsto para acontecer em 2020, não vai mais ser realizado em 2021 e a tendência é que não ocorra em 2022. Ao aprovar, na última quinzena de abril, o orçamento para este ano, o governo federal confirmou que a contagem populacional está cancelada. Tal pesquisa é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a cada dez anos desde 1950 — exceto em 1991, quando houve atraso — e faz a contagem de todos os brasileiros vivos, constituindo o retrato mais fiel da população brasileira.

No levantamento, os pesquisadores procuram visitar todos os domicílios do país, onde aplicam um questionário básico que, na versão atual, possui 26 perguntas sobre quantidade de pessoas que moram no domicílio, renda, educação e identificação étnico-racial. Um questionário mais amplo, com 76 questões, também é aplicado em um décimo dos domicílios visitados, sendo levantadas informações socioeconômicas mais detalhadas.

O cancelamento da realização do Censo em 2021 é algo que se soma a uma série de cortes, ataques e desmontes que já ocorrem desde 2019. Justificando a redução do questionário e, consequentemente, dos recursos para sua realização, o ministro Paulo Guedes chegou a afirmar em fevereiro daquele ano que “se perguntar demais vai descobrir coisas que não quer saber”. Mas é exatamente a possibilidade de se “descobrir coisas” que faz o Censo algo tão importante para o país.

O conjunto de dados coletados pela contagem populacional é uma ferramenta importante tanto para o setor público quanto para agentes privados. As informações coletadas pelo Censo servem para orientar políticas públicas, por exemplo, identificando lugares onde devem ser priorizadas ações em saúde, educação, transportes, habitação e assistência social. A própria iniciativa privada usa dados do Censo para pesquisas eleitorais, definição de estratégias de propaganda ou para decidir o local de instalação de futuros negócios.

O Censo Demográfico é a imagem mais nítida da população brasileira e dos cerca de 70 milhões de moradias distribuídas nos 5.570 municípios. Não realizar o Censo é comprometer a formulação de políticas públicas, sobretudo no nível municipal. Não realizar o Censo é consolidar um apagão estatístico, como dito por uma ex-presidente do IBGE. Não realizar o Censo é, inclusive, deixar de medir os impactos da pandemia e pensar em futuras ações que poderiam ser tomadas. Não realizar o Censo é um contrassenso.

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